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08/08/2008 - 21h29
Zé do Caixão ganha suas "memórias do cárcere" em quadrinhos
ADRIANA TERRA
Colaboração para o UOL
Detalhe de quadrinho do livro "Prontuário 666 - Os Anos de Cárcere de Zé do Caixão", que narra acontecimentos que antecedem história do filme "Encarnação do Demônio" (2008)
Simultâneo ao lançamento de "Encarnação do Demônio", filme que completa trilogia de Zé do Caixão, personagem do cineasta José Mojica Marins, chega às bancas o livro em quadrinhos "Prontuário 666 - Os Anos de Cárcere de Zé do Caixão".
Lançado pela Conrad na última quarta-feira (6), o trabalho de Samuel Casal e Adriana Brunstein tem função didática: narra os acontecimentos da vida de Zé do Caixão entre o segundo filme da trilogia, "Esta Noite Encarnarei e Teu Cadáver" (1967), e o terceiro. São os "anos de cárcere" que dão nome ao livro, 40 anos em que Zé do Caixão passou em uma penitenciária.
"Foi vista uma lacuna entre o segundo filme e o terceiro e, como o Mojica tem atração por quadrinhos, resolvemos criar essa ligação que é o livro", conta o desenhista Samuel Casal. "Prontuário 666" foi idealizado por Paulo Sacramento, produtor de "Encarnação do Demônio".
A lacuna a qual o desenhista se refere é preenchida no livro com histórias sobre a rotina de Josefel Zanatas, o Zé do Caixão, na Casa de Detenção em São Paulo, onde ele se encontra preso. Lá, Josefel usa os detentos como cobaias para seus experimentos científicos, que têm como objetivo final a obsessão do personagem: gerar um filho perfeito. A história se passa em 1988.
"O livro marca também a volta de Zé do Caixão aos quadrinhos", garante José Mojica Marins. Além do cinema, o personagem já teve presença constante em HQs, embora hoje isso seja menos conhecido.
Entre as décadas de 1960 e 1970, o personagem era a atração da revista "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", nome também de filme e programa de TV de Mojica. Com desenhos em sua maioria do italiano radicado no Brasil Nico Rosso (1910 - 1981) e roteiros de Rubens Francisco Lucchetti, a revista de terror trazia quadrinhos, contos e fotonovelas.
"Entre 1968 e 1970, duas editoras lançaram três revistas que tinham Nico Rosso e Rodolfo Zalla como ilustradores dos roteiros de R. F. Lucchetti: Prelúdio, com 'O Estranho Mundo de Zé do Caixão' e 'Zé do Caixão no Reino do Terror', e Dorkas, que relançou 'O Estranho Mundo'. Em 1987, a L&PM publicou um belo álbum com seleção de histórias feitas por Lucchetti", detalha o pesquisador Gonçalo Júnior, autor dos livros "Guerras dos Gibis" e "Enciclopédia dos Quadrinhos".
Esboço de capa de um gibi de Zé do Caixão feito na década de 1970 por Rodolfo Zalla, parte do livro "O Sentido de Tudo", de Gonçalo Junior, inédito
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Assim como os filmes, os quadrinhos de Zé do Caixão também foram censurados pela ditadura militar, mas em menor medida. "Em 26 de janeiro de 1970, quando o o governo baixou decreto para censurar publicações, principalmente eróticas, as revistas com o Zé do Caixão foram incluídas em uma lista de 54 títulos que deveriam ser banidos das bancas", conta Gonçalo Junior. "[O roteirista Rubens Francisco] Lucchetti era ousado e subversivo o suficiente para não se auto-censurar e levar para os quadrinhos cenas chocantes", opina o pesquisador.
O jornalista Ivan Finotti, co-autor da biografia "Maldito - A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão", acredita que "seja qual for a razão, muitas coisas passaram desapercebidas porque a censura não considarava as HQs relevantes", o que possibilitou que a citada ousadia dos roteiros de Lucchetti por vezes se safasse da censura e chegasse aos leitores.
Em "Prontuário 666", como no filme recém-lançado, "houve uma atualização, uma releitura" do personagem, explica Samuel Casal. "Me procuraram pela identificação do clima do meu trabalho com o trabalho do Zé do Caixão", diz o autor, que já quadrinizou poema de Augusto dos Anjos e desenhou para a série "Contos Bizarros", da revista "Superinteressante", da ed. Abril.
Para José Mojica Marins, Casal fez um trabalho "fora de série". "Se não fosse Casal, gostaria que Colonnese desenhasse o personagem, fiquei sabendo que ele ainda é vivo", disse, fazendo referência ao italiano Eugênio Colonnese, cuja maior criação no universo do terror é a vampira Mirza. O desenhista morreu na madrugada desta sexta-feira (8) aos 78 anos, um dia após entrevista de José Mojica Marins concedida ao UOL por telefone.
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"PRONTUÁRIO 666 - OS ANOS DE CÁRCERE DE ZÉ DO CAIXÃO"
Autores: Samuel Casal (desenhos e roteiro) e Adriana Brunstein (roteiro)
Editora: Conrad
Preço: R$ 24
• do UOL Diversão e Arte